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  • Franco Catalano

Coronurbados

Grandes cidades facilitam a transmissão de doenças e nos expõem a situações como a que estamos vivendo


A pandemia que ocupa as capas de todos jornais e revistas, as manchetes de todos noticiários e os temas de todas as conversas desta semana (e possivelmente das próximas) está intimamente relacionada à forma que nossas cidades assumiram e à globalização do mundo. Altas densidades, pouco espaço verde, grandes empreendimentos privados que concentram serviços e pessoas. Assim fica fácil – e rápido – que a doença se alastre.


Entre o primeiro paciente chinês diagnosticado com o Covid-19 e a data em que escrevo este artigo, são quase 300 mil pacientes comprovadamente infectados, 12 mil mortos e 163 países afetados. Tudo isso em cerca de três meses. A velocidade de disseminação e a abrangência global do vírus só ocorreram porque o modelo de vida, trabalho e cidade é muito similar em todo o mundo. É o capitalismo conectando pessoas e negócios.


Parem e pensem no cotidiano de um brasileiro metropolitano de classe baixa. Habitação pequena, improvisada e insalubre. Lhe faltam cômodos, saneamento, luz e ventilação. No caminho para o trabalho enfrenta horas de transporte público lotado. No trabalho, informal, lhe falta água, comida e descanso.



Anthony Ling aponta o paradoxo da cidade grande: ao mesmo tempo em que facilita e agiliza a disseminação das doenças, oferece, mais que qualquer outro tipo de assentamento, condições para o tratamento e contenção delas. Redes de hospitais, farmácias distribuídas por todos os bairros, abundância de alimentos, centros de pesquisa e inovação...apenas em uma metrópole podemos encontrar tudo isso.


O momento é de reflexão. Reflexão sobre si, sobre o outro, sobre nossos hábitos, sobre a forma como temos tratado a natureza. O grande problema, penso, não é o capitalismo, nem a conurbação das cidades, nem as viagens internacionais. O problema é como nada disso leva em conta a sustentabilidade. E não digo apenas pelo viés ecológico. Nosso modelo de vida não se sustenta. É desigual, desumano, ignora o passado e o futuro. Vivemos no tempo em que só nos importa nosso próprio umbigo e que se dane o mundo. A conta chegou e vamos pagá-la em parcelas longas e pesadas.

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